sábado, 23 de maio de 2009
Queria de ti...
Iríamos, eu e tu, vivenciar uma intensa oficina, amoral, impetuosa, incontrolável... remexer sentimentos até que sangrassem palavras , em um fluxo incontrolável. De ti para mim... de mim para ti. Verso e prosa em um único corpo... visceral... talvez insuportável... insustentável... e por isso mesmo, maravilhoso. Os corpos são apêndices de nossos delírios. Instrumentos mal aproveitados urgindo por experiências sensoriais não racionalizadas... Que posso fazer se cada vivência dói como faca na carne? A não-vivência dói ainda mais. Anestesio-me com fumaças e líquidos, lascívias, tesões. Falta algo... sempre... falta o que completa a criatura. Amor não tem nada a ver com isso... como se já não coubesse num quarto fechado, ou só coubesse ali... Teus olhos já não são teus olhos... tuas palavras não sei de onde vêm... Os sons rondam meus neurônios feito música... e o grito, encarcerado, sobe por paredes do meu ser, sem conseguir se livrar das amarras que eu mesma criei. O real e o não real se fundem... A essência e o nada são o mesmo. Então, que diferença faz se sou boa ou má? Se te odeio ou te amo? Se ergo a lança ou curo a carne? Uma única sinfonia é o resultado dos temores e prazeres que acumulamos pela vida afora... executada uma única vez... mas que ecoa infinitamente através de cânions inexploráveis da existência. Talvez a resposta esteja em perceber cada assovio, cada sussurro, em meio a tanto barulho. Traduzi-los, por palavras, em comunhão, seria alcançar a perfeição... ou a morte.
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